Emergência climática permanente pode tirar RS do ciclo de catástrofes, diz especialista

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A criação de uma política de emergência climática permanente no Rio Grande do Sul, proposta em discussão na Assembleia Legislativa, pode ser um passo decisivo para interromper o ciclo de desastres ambientais que afeta o Estado ano após ano. A avaliação é do geógrafo Wagner Costa Ribeiro, professor da Universidade de São Paulo (USP), que classifica o território gaúcho como uma "zona de sacrifício" diante da frequência e da intensidade dos eventos extremos.
Nos últimos três anos, o Rio Grande do Sul enfrentou enchentes devastadoras — especialmente em 2024 e 2025 — com prejuízos materiais, mortes e deslocamento de comunidades inteiras. Para o especialista, os episódios não são mais isolados: "Há uma anomalia climática em curso. As chuvas intensas se repetem nas mesmas épocas, e isso já indica uma nova dinâmica ambiental no Estado."
Segundo Ribeiro, essa alteração está ligada à mudança no comportamento da umidade amazônica, que tem chegado com mais força à região Sul. O professor defende que a resposta aos desastres precisa ir além do improviso: "Não dá mais para reconstruir tudo todo ano. É necessário planejamento de longo prazo, com reestruturação territorial e envolvimento das comunidades."
A proposta de emergência climática vem sendo encampada por parlamentares como Matheus Gomes e Luciana Genro. A medida permitiria antecipar ações e garantir recursos para prevenir, e não apenas remediar, os impactos das cheias.
Falhas estruturais e sofrimento psicológico
Ribeiro também critica soluções adotadas até aqui, como os diques, que não evitaram a cheia do Guaíba e, segundo ele, agravaram o alagamento. "A geografia do local impede o rápido escoamento da água. Mesmo após a enchente, o nível segue elevado por muitos dias."
Além das perdas materiais, o professor alerta para os efeitos emocionais: "Viver em meio a ruínas e lama modifica a forma como as pessoas enxergam o mundo. O impacto psicológico é profundo e permanente."
Modelo para o país
Para o especialista da USP, a aprovação da medida pode servir de referência para outras regiões do Brasil marcadas por desastres recorrentes. "Não se trata de culpar a chuva, mas de entender que a intensidade e a velocidade dos eventos estão mudando. E o Estado precisa mudar junto."
Fonte: Terra