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Após 20 anos, o estoquista pôde voltar a ouvir graças a um implante auditivo de tronco cerebral. A complexa cirurgia foi realizada pela primeira vez no Rio Grande do Sul, no Hospital Moinhos de Vento (HMV). O implante foi ativado há dois meses – e os resultados evidenciam o sucesso da intervenção.

"É uma cirurgia bastante complexa, muito sofisticada, porque envolve uma região conhecida por base do crânio." JOEL LAVINSKY - Otorrinolaringologista do HMV

Fidelis sofre de uma doença genética chamada neurofibromatose do tipo 2, que causa tumores nos ouvidos e compromete o nervo auditivo. Por isso, não havia a opção de colocar aparelho de audição nem implante coclear – conhecido popularmente como “ouvido biônico”, indicado em casos em que não há audição a ser amplificada, procedimento já rotineiro para pessoas com surdez total.

O implante auditivo de tronco cerebral, portanto, era a última barreira para a reabilitação, conforme Joel Lavinsky, otorrinolaringologista do HMV, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ⁠professor livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Associação Gaúcha de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.

O implante é colocado junto ao tronco cerebral. A informação sonora externa passa pelo implante e vai diretamente para os núcleos auditivos – a parte auditiva do tronco cerebral.

— É uma cirurgia bastante complexa, muito sofisticada, porque envolve uma região conhecida por base do crânio. É uma região que passa por estruturas vitais e nobres, como nervos, artérias, veias, então, é bastante delicada a cirurgia. Foi possível encontrar o ponto exato para colocar esse implante no tronco cerebral — explica o médico.

A operação é indicada em situações específicas, como a de Fidelis, bem como em casos de crianças que nascem sem as estruturas do ouvido e nervos auditivos.

 

O fim do silêncio absoluto

No caso do “ouvido biônico”, os pacientes podem alcançar níveis de audição normais ou muito próximos do normal. Já no implante auditivo de tronco cerebral, como não se utiliza diretamente o ouvido, e sim o tronco cerebral, a audição, de modo geral, não será como uma audição normal. 

O paciente sai do silêncio absoluto e passa a ouvir sons, de vários tipos e níveis – o que é de grande ajuda para a leitura labial (recurso utilizado pelos pacientes para se comunicar) e por questões de segurança. Os pacientes passam a ter um entendimento mais claro de palavras e frases. No entanto, os resultados podem variar conforme a causa e o tempo de privação auditiva, com alguns pacientes alcançando desfechos mais expressivos.

— Muitas vezes, o pouco que se consegue para o paciente sair do silêncio total e absoluto já é uma grande vitória, para o paciente ter uma qualidade de vida aceitável — pontua Lavinsky.

 

Como é a cirurgia

A cirurgia realizada no HMV ocorreu em duas etapas: foi feita no ano passado, com um pequeno ajuste no início deste ano. Antes da operação, foi necessário remover os tumores. Como o implante é estimulado eletricamente, é preciso esperar alguns meses para ativá-lo, o que deve ocorrer com monitoramento em hospital. O dispositivo foi ligado há dois meses.

Após ser ativado, os resultados melhoram progressivamente. Por esse motivo, a entrevista com Fidelis foi realizada por escrito – embora, neste momento, ele já detecte a maioria dos sons e, aos poucos, venha conseguindo entender palavras e frases.

Surdo oralizado, o morador de Torres fala, faz leitura labial e trabalha. Ele conta que foi gradualmente ficando surdo. A cirurgia foi indicada, mas era realizada somente em um único centro no Brasil, em São Paulo, e o alto custo inviabilizava essa possibilidade.

Após receber negativa do plano de saúde pelo fato de a operação não constar no rol de procedimentos obrigatórios – e não ser oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) –, Fidelis ingressou com uma ação na Justiça e, após 10 anos, obteve sentença favorável para que o Estado e a prefeitura arcassem com os custos. 

A cirurgia, então, foi feita em Porto Alegre, com acompanhamento de especialistas de São Paulo.

— O procedimento foi perfeito. Sem dor, poucos dias na UTI. Superou a expectativa, porque podia não funcionar — relata Fidelis.

Desde então, o paciente tem realizado ajustes com fonoaudiólogos.

— Creio que vou conseguir ouvir muito bem. Daqui para a frente é só alegria, estou muito feliz — relata.

Além de Lavinsky, a equipe de profissionais incluiu o neurocirurgião Gustavo Isolan e a fonoaudióloga Natália Fernandes, sob a supervisão dos médicos Ricardo Ferreira Bento e Marcelo Prudente e da fonoaudióloga Valéria Goffi – profissionais da USP.

Muitas vezes, a população encara a perda de visão como algo mais grave do que a perda de audição, aponta Lavinsky. A condição, porém, isola o paciente, minando a qualidade de vida.

— É uma cirurgia essencial para termos aqui na nossa região. São poucos casos feitos no Brasil hoje, poucas cirurgias dessas, e ter a possibilidade de fazer isso no nosso Estado nos abre uma fronteira. Hoje, felizmente, conseguimos reabilitar praticamente todos os casos de surdez, existe o que fazer para o indivíduo, mesmo em casos gravíssimos como esse. Ter essa opção é fantástico — avalia.

 

Fonte: Zero Hora

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